A Prática do Impraticável
Imagem Mulheres Encarceradas
Crédito da foto: Elizabeth Misciasci
Por: *Elizabeth Misciasci
- Quando a Reação se separa da Razão...
Exageradamente carregada de preconceitos e obrigações domésticas, algumas mulheres se limitam sem vislumbrar outro amanhã.
Atendendo as normas disciplinares como regras de condutas que lhe foram invocadas desde a infância, muitas agem e reagem de forma limitada, ou seja, dentro de uma desigualdade social e moral, que são reflexos de seus valores precocemente atribuídos e totalmente comprometidos.
Assim, não encontrando opções para externarem desejos ou opiniões, nem tão pouco, sentindo-se à vontade para responderem aos quesitos da vida como qualquer "pessoa normal", há muitas que criaram suas próprias rotinas e se adequaram a estas, uma vez que pouco restou...
-Isso não é passado!
Falo de casos atuais, onde a mulher que foi delineada para viver e ser apenas o retrato da submissão, esquivando-se, como fruto de uma cultura arcaica que grotescamente imposta, é desleal e na maioria das vezes cruel.
A rigidamente tenebrosa formação feminina passou por muitas lutas às conquistas, e assim foi se mudando um cenário, que "aparentemente" começou a se mostrar menos doloroso e perverso, com o passar dos tempos. Numa mudança gradativa, onde o passado próximo era regido apenas pelo homem e para o homem, deu-se então, início a novos conceitos e atitudes.
Com a emancipação feminina, também começou um rompimento maior e mais célere na instituição familiar, demonstrando que a mulher, se preparava para enfrentar desafios e sofrer por eles, numa nova visão e consequente postura. Contudo, nem sempre tendo "aval, conivência, ou aceitação" dessa evolução, pelo sexo masculino machista, pelos fanatismos, ou por mentes perturbadas.
Portanto, algumas não conseguiram se libertar das regras impostas pelo patriarcado ditatorial, permanecendo mantidas, sob as "regras" à que foram determinadas, desde o berço.
Enquanto isso, outras mulheres, foram (e ainda são) duplamente "massacradas"... Submetidas a uma somatória cruel, englobada impiedosamente, pela retrógrada rigidez das autoridades absolutas, feitas de severas e permanentes normas, as reduzindo às proporções morais, físicas, psicológicas e sociais mínimas; deixando-as "literalmente" em estado de "escravidão" e vergastadas.
Isso tudo, mais as dores vindas de mãos em que "colocaram-se ou foram "colocadas", ou seja, mãos de índoles maldosas, comportamentos anômalos e cérebros doentios, onde resistindo, remanescentes, como numa continuação da espécie domesticada, não conseguiram, ou conseguem, até os dias atuais, serem donas de suas vidas e proprietárias de seus destinos.
Porém, as exceções marcam uma nova era, numa época, em que nem todas encontram as maneiras "legalmente corretas" para driblarem o cotidiano e aniquilarem as violências ora passadas e ainda vividas.
Com marcas indeléveis, mulheres emocionalmente fragilizadas, silenciam, permanecendo assim, até o final de seus dias... Enquanto outras, movidas por inúmeras razões, (que podem ir de um ressentimento acumulado em mágoas, ou o desenvolvimento de uma doença, até o desabrochar de um desequilíbrio) em contrapartida aos sofrimentos vividos, se rebelam e acabam na prática do "impraticável".
Na maioria das vezes, a reação ou "surto", se dá repentinamente e a "vítima" quase sempre é o "companheiro", algoz, ou alguém que represente a figura próxima de seu "carrasco".
São muitos os casos de mulheres, que na tentativa de se defenderem, acabaram por acidente, revoltadas ou mesmo por "opção" cometendo uma ação delituosa...
Sabemos que hoje, o que poderia ter sido evitado (tanto para homens como para mulheres) com alertas registrados em delegacias especializadas, não recebeu (como nem sempre recebe) precaução, providencias ou as imediatas, urgentes e necessárias atenções.
Estes despercebidos alarmes, tragédias anunciadas, pedidos de socorro, tanto quanto, as situações que poderiam ser analisadas evitando o "letal", assim como em outras circunstâncias, que, se julgadas em instâncias criminais, fossem devidamente qualificadas como: legítima defesa; resultados de doenças adquiridas, (principalmente os erros causados pelos transtornos e agressões...) por fim, as vitimologias. Que de Fato e de Direito, não foram, nem são olhados e tratados com os cuidados exigidos... Resultando indubitavelmente em trágicos casos, e mortes, tanto quanto, como prisões, destruições de famílias e filhos comprometidamente sequelados.
A realidade é que a reação que resulta dos anos de violências sofridas, já jogou e ainda joga muitas mulheres atrás das cortinas de ferro...
Há uma realidade dramática, onde a experiência adquirida em meio a socos, murros e pontapés, ou o pânico alimentado em conta-gotas de indiferenças, realça com destaque a inexistência de garantias de se "continuar com vida" depois de uma queixa ou denuncia.
Este descomprometimento com a lei e o descaso de tantos, já desencadearam inconjugáveis historias, sendo o agente transformador á converter o "covarde em valente"...
Obvio, resultando em instrumento condutor, á serviço de instrução para uma sentença penal condenatória de muitas mulheres...
No palco, aonde a tragédia é o pano de fundo, a maioria das mulheres que fazem parte deste drama, ainda somam nas estatísticas, engrossando uma larga camada da sociedade.
Esses casos são mais comuns do que se pensa, e embora não seja uma regra, o maior índice de ocorrências, chegam de situações, onde aquela que na condição de filha, ao defender a mãe das violências do pai/padrasto, (ou os mais impensáveis casos com similaridades) reage às brutalidades no ímpeto.
Isso, quando a vítima, não chega ao máximo do sofrimento, ou ao perecer... Daquilo que não é possível inverter, (que se efetua numa única direção, e triste fim, sem possibilidade de retornar à etapa anterior) a pior das consequências...
Diversas são as denuncias em processos crimes deste seguimento, mostrando que a acusada, empregando gestos rápidos, impensados e sem reflexos, atingiram de forma fatal "a então, ora vítima" que antes, era o "o temido agressor".
Neste episódio em que a razão se separa da ação, a cratera se abre, e o precipício, vai lentamente transformando o contexto. Os valores já opostos substituem identidades, colocam vítimas nos bancos dos réus e os quatro cantos do universo, ganham nova cor e tamanho...
O que antes era um pesadelo vivido (quase sempre por apenas um) passa a ser tragédia para muitos...
Assim como muitas ocorrências, que após serem ignoradas, ou, não tratadas com o devido rigor, cautela, atenção e cuidado, levam pra sempre, as verdadeiras vítimas...
O que hoje, e a cada dia mais, transformam ou já se transformaram em incontáveis casos de mulheres "sacrificadas", ingênuas, que sem reação diante "da força", cercadas de inseguranças, desprotegidas, desamparadas, ignoradas, desrespeitadas, e barbarizadas ficaram (e ficam) à mercê dos antigos parceiros, dos que as cobiçam, dos incontrolados, mas, todos, portadores de "instintos assassinos"...
Daquele que se compraz em fazer sofrer ou ver sofrer, o inexorável... Tiranos, selvagens, que imolaram inúmeras vítimas... Mulheres que "eles" profligaram, destinadas e jogadas ao "irreversível" fim, ao óbito sem Adeus...
Por fim, não estou incitando nenhum tipo de ação violenta, ou reação impensada! Mostro o que está, há muito, comprovado! Não trato aqui, de mulheres psicopatas que não gostam de serem contrariadas, nem tão pouco possuem traços de psicopatia feminina, aqueles que coincidem com os traços encontrados nos homens como insensibilidade, violência e agressão sem que isso implique em culpa.
Não estou falando nem tratando dos episódios premeditados. Sem referir-me aos casos daquelas em que suas emoções são superficiais e achatadas, mas sim, das que trazem cicatrizes imperceptíveis, àquelas que sobreviveram no inferno, silenciando cada gota de sangue, nutridas das próprias lágrimas derramadas e que, ou pelo medo, ou pela falta de respaldos, providencias, garantias e sem nortes, erraram tudo!
Uma vez que, muitas, infelizmente, acabam reagindo impetuosamente
Reagindo no impulso, para se mostrarem presentes e vivas, algumas, (de forma grave, que não deve jamais ser praticada), tentando a distância das vergonhas, das marcas externas e internas, das brutalidades vividas, tanto quanto, das sentidas perversidades inarráveis que em segredos, e, por anos foram abafados nos escuros de seus quartos ou fundos do que "antes seriam lares"...
Mulheres "Sobreviventes" acabam por se condenarem e se auto-sentenciarem á penas máximas, condenações estas, que além de colocá-las entre as grades, submetem-nas á punições que, (em 90% dos casos) perdurarão perpetuamente.
Por: Elizabeth Misciasci
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